31.1.14

Por Detrás das Sombras #11


Por Detrás das Sombras #11

Desde que fui criado que a minha vida não tem sido outra. Missões atrás de missões para me conseguir alimentar.

Nas minhas missões tenho de arrastar uma determinada alma para as trevas, porém as almas não são escolhidas por mim nem ao acaso. Normalmente o conselho distribui as almas por escalão, ou seja, quanto mais fortes as almas mais fortes têm de ser os neckros responsáveis por elas. As almas são distribuídas assim que um novo humano nasce.

Nós podemos usar todos os meios para conseguir arrastar as almas que nos foram atribuídas para a escuridão. E como eu disse antes, as almas não são escolhidas ao acaso. As almas normalmente nascem com memórias de vidas passadas e é dessas memórias que nos alimentamos assim que uma alma volta a nascer na Terra. Por isso é que vocês humanos não têm essas memórias que já viveram. Podemos também trocar as felizes memórias de infância por memórias escuras e cheias de sofrimento. Pelo menos era isso que eu costumava fazer, mas desta vez não o consegui fazer. E só agora consegui perceber o porquê de não o ter feito.

Quando me foi atribuída a alma de Tsuki eu não tinha a noção do que me esperava.

Assim que ela nasceu fui até ao hospital onde ela estava para ver a sua alma, mas quando olhei para os seus pequenos olhos não consegui deixar a semente das trevas naquela pequena criança. O brilho que aqueles pequenos olhos refletiam trouxeram-me sensações que nunca tinha experimentado antes.

Passei dias sem me conseguir alimentar daquela criança. Não conseguia deitar-lhe simplesmente as garras 
como já havia feito a inúmeras almas. A única solução que arranjei foi alimentar-me dos humanos mais próximos dali, começando por algumas enfermeiras passando pelos seus pais até muitas outras almas até hoje, nunca consegui saciar a minha fome apenas com uma alma por dia.

Tenho-a acompanhado todo este tempo esperando conseguir alimentar-me, mas nunca consegui. Como não me tenho alimentado da alma que me foi atribuída, as minhas vítimas já se tornaram incontáveis.

Quando o conselho descobriu que não tenho feito o meu trabalho colocou outros neckros para o fazer por mim. Neckros esses que foram destruídos um por um pelas minhas próprias mãos, cada neckros era mais forte que o outro, no entanto, nenhum era do meu escalão.

Naquela altura não sabia o que estava a sentir, só sabia que a queria proteger a todo o custo.

Tsuki foi crescendo e eu continuava a observá-la das sombras.

Certo dia um dos neckros que foram enviados começou a dar nas vistas e a deixar papelinhos com recados para ela sem que eu percebesse de onde ele vinha. Quando descobri comecei a vacilar e a ficar preocupado com o que aquele intrometido poderia vir a fazer-lhe.

Comecei a ficar intrigado com a situação quando vi que aquilo a estava a deixar preocupada. Tudo o que queria era estar do lado dela, e quando a vi naquela noite a dormir tão serena e indefesa não resisti em me aproximar e voltar a sentir o seu doce aroma. Mas não esperava que ela acordasse tão de repente e me visse naquela forma. Depois de cometer um erro daqueles tinha de ser mais cuidadoso, mas sei que a assustei.

As investidas do meu novo substituto não paravam. Então para estar mais perto dela, e impedir que algo pior acontecesse, decidi disfarçar-me de humano e entrar para a escola dela como um aluno transferido.

Porém isso não valeu de nada. Ela acabou por ser atacada na mesma.

A única maneira de a manter segura é levá-la para o meu refúgio onde ninguém a irá procurar.

Depois de a levar para o meu refúgio as coisas foram ficando cada vez mais estranhas. Dei por mim a fazer coisas por ela que nunca pensei fazer por ninguém toda a minha existência.

Se ela fosse outra pessoa eu ter-me-ia deliciado com o sangue que fluida por aquelas belas feridas. Apenas tocar em Tsuki deixava-me confuso. Por isso, decidi pesquisar o que poderia ser aquilo, e acabei por não gostar do que descobri. Aqueles sentimentos não poderiam ser nada mais, nada menos do que o maior cliché de todos… Um neckros a amar uma humana.

A única maneira de não a atacar era sair para me alimentar e estar longe dela, mas não aguentei a distância durante muito tempo. Acabava por chegar a casa coberto de sangue e sem uma desculpa para lhe dar para esclarecer aquela situação.

Tentei resistir àqueles sentimentos, pois poderiam provocar a sua morte, mas acabei por não conseguir. Acabei por prova-la, acabei por cometer o pior erro que podia ter cometido.


Aquela pequena e indefesa rapariga acabou por me domar com o seu aroma e fragilidade, roubou o que eu tinha mais parecido com um coração humano, roubou os meus sentimentos e tornou-os puros. Agora já não posso fugir mais do que sinto. 

1 comentário:

  1. oi oi
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    http://asduasloucasporanimes.blogspot.pt/2014/02/concurso-vlog.html

    Bjs :* Linda

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